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Poesia & Filosofia

Ela

 

Minha mulher acorda com o brilho da manhã de sol

Refletida nos seus cabelos

E eles ficam mais loiros e brilhantes resplandecendo

No alvorecer do dia

Sua energia feminina me fortalece na manhã ensolarada

Que surge no horizonte

Um pássaro colorido e doce pousa no meu ombro e sussurra

Num átimo no meu ouvido numa linguagem enigmática: vai

Amá-la vai amá-la ... Vai amá-la.

 

Brasília-DF,  abril de  2024

Renan Lins

 

Destino

 

Ó destino que me espera.

Ó destino que me alcança.

Seja brando e amigável,

seja franco e inabalável.

 

Ó destino ainda infante

estude bem minha alegoria.

Seja humilde no agouro,

seja farto na alegria.

 

Um amigo na penumbra.

Uma voz na escuridão.

Ó destino indefinido

seja pródigo no perdão.

 

Que a dor no coração seja finita.

Que a água no alforje seja, mais pura.

Ó destino que me alcança

seja humilde na tortura.

 

Ó destino indefinido

cresça forte mas astuto,

seja esperto senão rude,

seja repleto de brandura.

 

Ó destino dos mortais.

Ó destino tão voraz.

Seja pequeno na avareza

dos amores não frugais.

CUNHA, Renan. Pai Poeta. 2011, pág.165

 

Canecas de vinho

 

Duas canecas de vinho
brilham perdidas sobre uma mesa redonda.
Extremos da diagonal que une
o nada à indiferença.
Trazem no álcool e no sabor
a chance de mudar meu mundo e minha dor.
Duas canecas de vinho
brilham perdidas sobre uma mesa redonda.

 

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011

Teu Corpo

 

Se eu fosse mais belo que
a manhã de sol
Competiria com o astro rei
para cobrir teu corpo.
Do pássaro selvagem mais doce,
roubaria o canto
para embalar o teu sono.
Do arco-íris descuidado e manso
suplicaria as cores
para alegrar os teus olhos,
meu eterno encanto.

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011

 

Ilusões - Regresso

 

Estou só com o meu cavalo.
O bater dos seus cascos escreve
a dimensão da minha solidão...
Corro atrás da lua cheia,
os bolsos vazios de ilusões.
O amargo regresso de torpeza vem cheio.

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011.

 

O Cão Sentado

 

Aquele cão sentado
olha-me de maneira estranha.
Que pensa o cão sobre o meu pensamento?
Não ri, mas abana a cauda;
por onde penetrou-lhe a minha alegria?
Passa a língua na bocarra peluda,
será romanesco com a cadela do dia?

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011.

 

Desejo

 

Fosse o dia preenchido
desses beijos ardentes,
Não haveria a tristeza
da espera da noite.
O desejo não dorme,
não quer o sol,
não quer a lua,
O desejo me rouba o dia,
acalma a Zeus,
e me tortura!

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011.

 

Riacho fundo

 

Corre, Riacho Fundo e leva-me contigo!
Safa-me do perigo iminente,
de perder-me nas acareações
impertinentes,
de abafar os gritos pungentes
de tanta dor e fugaz esperança.
Regueiro, benquisto e amistoso,
besunta-me de novas perorações da
verdadeira natureza.
Amada, sim! Amada, qual musa adormecida.
Traz-me de volta o brilho das sinceras
recordações.
Traz-me de volta o paladar acidulado das
conquistas semipotentes.
O ardor juvenil ensandecido,
o canto do açor exasperado!

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011.

 

Amor e Desejo

 

Em ti meu desejo vive
e procura a todo instante,
o ensejo de te deixar prostrada
com gotas de suor brilhante.
O brilho nos teus olhos é de amor flamejante.
A glória maior de vencer teus receios,
fazer da tua vida um eterno recreio,
jogar no teu mar a isca do meu amor saltitante.
Um minuto, uma hora do teu sorriso excitante
é um infinito de prazer conquistado,
uma contenda entre o amor e o desejo.
Um bálsamo vencedor para o meu coração fatigado.

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011.

 

Combate

 

Da colina ouço nitidamente o rufar dos tambores.
Meu coração treinado, mesmo assim teima em acelerar.
Meu cérebro domesticado, retesa meus músculos,
e todo o meu ser olha em direção para o céu.
Que a divindade perdoe minha bravura!
Que a divindade perdoe meus improváveis temores!
Os músculos de todo este universo se retesam.
As solas de couro das botas raspam o solo quase, compassadamente.
“Zilhões ” de pensamentos redemoinham nas nossas cabeças...
Que a divindade me torne um herói!
Que a divindade não derrame meu sangue!
Os cavalos pareados relincham assustadoramente.
A fumaça de frio escapa das suas narinas redondas.
Alguns homens têm a face retesada de medo.
Que a divindade perdoe ceifar tantas vidas amorosas!
Que a divindade perdoe nossos chefes imprudentes!
As lanças parecem especialmente brilhantes.
As flechas estão mais ponteagudas do que sempre.
Os capitães apresentam um esgar na face queimada do frio.

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011.

 

Rosa

 

Eu era novo e amar queria mesmo.
Achava o amor um doce e desejava um.
Pensava-o belo e imune às tolices de outrora.
Eu via Rosa passar para escola,
Eu era santo e não sabia,
eu era pecador e não sabia,
eu pensava que dois fios eram barba,
eu imaginava que, ao fazer barba, homem seria...
Eu via Rosa passar para a padaria,
eu via Rosa dobrar a esquina.
Eu montava o cavalo como gente grande.
Eu pilotava minha bike como se piloto fosse,
eu jorrava energia e testosterona, como se fosse um regador.
Eu via Rosa regar seu jardim,
Eu via Rosa cheirar o jasmin.
Eu tentava um dez na prova de filosofia.
Eu tocava o tambor na banda da escola,
eu recitava no colégio.
Eu via Rosa cantar no coral,
eu via Rosa acariciar o animal.
Eu explodia de amor no pequeno peito.


O mundo se danava pros meus feitos de quase-homem.
Eu pensava em me tornar o Super-Homem.
Eu via Rosa lendo o gibi.
Eu via Rosa rindo no coreto do jardim da pracinha.
Eu via... Eu via...
Eu queria ser cego pra poder tocar... Tocá-la com perdão.
Eu queria ser manco pra chamar sua atenção.
Ó Rosa, Rosinha, por que não me vês?
Ó pérola do oceano sem fim!
Ó deusa das tumbas de marfim!
Ó menina endeusada por tudo e todos.
Que mundo sem dó nem piedade!
Tenha pena de mim!
Acalente meu sonho de infante.
pare o tempo sem glória!
Faça o mundo girar só pra mim!
Eu via Rosa voando,
eu via Rosa dançando.
Eu tenho a rosa no jardim de flor:
Eu tenho Rosa, finalmente, pra mim!

Pai Poeta de Brasília

Brasília, 2011.